Se eu não me engano o primeiro conceito sobre a odontologia esportiva (assim a especialidade era conhecida a uns anos atrás) foi em um artigo que eu li de 1998. Deste ano para cá tive a oportunidade de escrever um conceito que se adequava para o atual período e momento, e junto com meus colaboradores a “Odontologia do Esporte é a área da odontologia responsável pelo atendimento de atletas de alto rendimento e praticantes de atividades física, levando em consideração as particularidades fisiológicas, a modalidade praticada e as regras do esporte.”
Esse conceito foi publicado em meu livro no ano de 2015 e ainda faz muito sentido, mas com novas experiências, pesquisas, acabei chegando em um novo direcionamento sobre a especialidade. Atualmente defino e apresento os três pilares da Odontologia do Esporte que são: a prevenção, a proteção e a performance. Esses três pilares nessa sequência contemplame englobam todos os outros conceitos sobre a área, além de apresentar um direcionamento clínico para o planejamento da atuação do Dentista do Esporte perante o seu paciente atleta.
A prevenção é o primeiro pilar e não devemos pular essa etapa. Quer um exemplo, como confeccionar um protetor bucal (que se insere em nosso segundo pilar da especialidade) se o nosso paciente vier a apresentar uma mobilidade grau 3 em seus dentes? A função do protetor bucal é receber o impacto e dissipá-lo de forma homogênea e com dentes sem sustentação oseu protetor pode ser o responsável por uma extração seriada do seu paciente sendo enquadrado como uma iatrogênica. O segundo pilar é a proteção e neste pilar se enquadram os protetores bucais e faciais e é aqui neste pilar que muitas vezes esquecemos do primeiro, pois é quando os atletas chegam no consultório buscando um protetor.
Sempre falo, que o protetor bucal é o que coloca o atleta na cadeira do dentista. É a grande chance do profissional informar e trabalhar o primeiro pilare deixar de ser só um “vendedor de protetor”. Mas a prevenção deve considerar as particularidades fisiológicas, a modalidade e as regras do esporte. O terceiro pilar é a performance e este é a consequência do trabalho dos pilares anteriores e não o resultado. Lembrem que é perigoso afirmar o aumento de rendimento físico atrelado apenas ao trabalho odontológico. Quer um exemplo, falar que o protetor bucal otimiza a performance já pode gerar um efeito ergo gênico no atleta muito similar aos efeitos das sugestões na hipnose. E como afirmar que é o protetor o responsável por tudo isso? A especialidade é muito recente e carente de pesquisas com melhores metodologias, ainda não temos nem uma quantidade suficiente de artigos de qualidade publicados para realizar uma revisão sistemática sobre o assunto.
Então, essa sequência de planejamento deve ser sempre seguida na medida do possível. Mas será que pode ser alterada? Nada é 100%, pois lembrem que a odontologia do esporte avalia o atleta como um todo, além do contexto que engloba o calendário esportivo e as competições. As vezes sacrificamos algumas etapas em pró as competições, metas e objetivos dos atletas e equipes esportivas. Entretanto nunca devemos esquecer os três pilares da especialidade. Esses pilares são fundamentais para sustentar nosso atleta, e se um for removido temos uma queda do equilíbrio. Faço uma analogia com uma cadeira de três pernas. A ausência de uma gera um desequilíbrio fatal para o seu portador e você precisa de no mínimo três para se estabilizar. Um pilar está conectado aos outros, assim como a odontologia está conectada a todas as outras áreas relacionadas as ciências do esporte.