No dia 14 de outubro de 2014 às 15h10min (horário de Brasília) na terceira Assembleia de Especialidades Odontológicas (ANEO), realizada na Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) em São Paulo, foi aprovada como nova especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO): a Odontologia do Esporte no Brasil. O momento histórico registrou-se na descrição acima, mas o sonho é muito mais antigo. A homenagem ao reconhecimento da especialidade vai ao PAI da Odontologia do Esporte no BRASIL ao senhor Mário Hermes Trigo de Loureiro (em memória) ou simplesmente Doutor Mário Trigo como era conhecido. O doutor Mário Trigo participou da história da seleção brasileira nas copas do mundo, sendo bicampeão mundial (1958,1962) e sua preocupação era que o foco dentário poderia ser responsável por debilitar a saúde do atleta, em 1958 dos 33 atletas da seleção ele removeu 118 dentes. O doutor Mário Trigo sempre de bom humor e muito carismático foi considerado um verdadeiro Talismã dentro da seleção. Em busca de suas imagens sempre encontramos ele sorrindo e não existe representação maior da Odontologia que o nosso sorriso. Infelizmente ele não pode acompanhar esta vitória da Odontologia do Esporte em vida, mas não deixou de ser nosso talismã também na defesa desta especialidade. A sua história não ficou apenas em nossas memórias ela se perpetuou e gerou muitos frutos. O exemplo de sua paixão pela odontologia e pelo esporte levou muitos profissionais a se aprofundarem nesta nova área que estava surgindo. Um começo com muitas suposições e pouca ciência onde aos poucos estes parâmetros foram se invertendo.
No Brasil entidades e associações foram formadas e aqui não vou nomeá-las para não ser injusto com nenhuma delas sendo que todas foram extremamente importantes no desenvolvimento da especialidade. No dia 29 de setembro de 2012 um grupo de Dentistas que estavam ligados de alguma forma com a Odontologia do Esporte se reuniu na cidade do Rio de Janeiro para formar a Academia Brasileira de Odontologia do Esporte (ABROE) com o propósito fortalecer e ajudar no reconhecimento da especialidade pelo CFO. Foram se somando cada vez mais profissionais na luta e a academia foi responsável pela organização de 4 simpósios antes da ANEO para demonstrar as justificativas científicas que sustentavam a nova área. Em muitos conselhos regionais de odontologia (CROs), já estavam estabelecidas várias comissões de Odontologia do Esporte responsáveis por disseminar sua importância. Antes da ANEO os CROs organizaram as pré ANEOS onde as novas especialidades poderiam apresentar sua defesa para que a proposta chegasse a assembleia nacional. Dos 27 conselhos regionais, 10 defenderam a odontologia do esporte sendo nove como especialidade e uma como habilitação e em todas as defesas tivemos êxito na sua aprovação, no restante dos conselhos não foi apresentado propostas. Enfim as propostas foram encaminhadas e agora era oficial, na ANEO a odontologia do Esporte seria defendida.
No dia 13 de outubro na abertura da ANEO duas excelentes palestras foram ministradas, uma sobre o estágio atual da pós-graduação em odontologia onde a professora doutora Roseana de Almeida Freitas enfatizava a importância da atuação interdisciplinar e na segunda a professora doutora Maria Celeste Morita abordou as áreas e abrangências de suas especialidades enfatizando os novos desafios destas novas áreas que estavam por surgir. O recado estava dado e a odontologia do esporte estava tranquila, pois no que foi colocado se enquadrávamos nas expertises e nos desafios propostos. No período da tarde os trabalhos começaram, com um total de 620 inscritos fomos divididos aleatoriamente em 4 salas de reuniões. As preocupações começavam, será que teríamos algum representante da odontologia do esporte em cada sala? Após a distribuição veio a grata surpresa em todas as salas pelo menos um ou mais membros da academia estavam presentes. Todos os participantes poderiam defender a favor ou contra a especialidade, a defesa não estava restrita somente aos nossos membros. No primeiro dia da reunião nosso assunto não foi contemplado e ficou para a próxima manhã.
Noite difícil para dormir, reuniões e muitas conversas via whatsapp, email e celular. O grupo criou um folder para maior conhecimento sobre a área, mas a defesa pessoal era mais importante. Chegou o nosso momento, a primeira defesa era na habilitação, solicitada por apenas um dos CROs e onde os próprios solicitantes não compareceram para defender. Os representantes da academia e os que acreditavam na área iniciaram a arguição. Éramos unanimes que as justificativas e sustentação científica eram suficientes para aprovação da nova especialidade, mas como a habilitação estava em pauta ela foi defendida, e obtivemos o apoio a favor em três salas e contra em uma. O grande momento se aproximava enfim a defesa de nossa tão sonhada especialidade que entrava na continuação da pauta da reunião. Uma a uma foi sendo apresentada e em todas as salas fomos contemplados com a vitória, sentimento de missão cumprida. Ainda assim a ansiedade e nervosismo tomava conta de todos, no cronograma era no período da tarde na plenária final que o resultado seria apresentado. Nada estava definido será que passaríamos por mais uma defesa? Os representantes se reuniram previamente e decidiram que respeitariam os resultados de unanimidade das salas a favor ou contra, e o que estivesse dividido novamente iria para discussão. E assim começaram a divulgar o que já estava estabelecido. O grupo estava unido em um misto de felicidade, ansiedade e agonia aguardando o pronunciamento do resultado. Era o trabalho de uma vida para todos, alguns presentes em corpo, outros presentes em alma e o restante presentes em coração. Anunciaram a primeira nova especialidade reconhecida e o silêncio pairava na assembleia, estava chegando a nossa hora, vibramos, não vibramos era nossa única indecisão. Começa o anúncio e ai ninguém conseguiu nos segurar, eram gritos que mais lembravam a comemoração de um gol em estádio lotado sendo comemorado com todos os pré-requisitos, literalmente. A alegria se misturavam as lágrimas, era o nosso momento, valeu a pena e faríamos tudo de novo se fosse preciso.
Agora para terminar gostaria de nomear todos os responsáveis pelo reconhecimento da especialidade: VOCÊ aluno, professor que pesquisou e ajudou a fundamentar a importância da odontologia do esporte, VOCÊ que militou e disseminou os conhecimentos a favor da área, VOCÊ que ao atender um atleta, o fez sabendo a importância do atendimento, VOCÊ atleta que confiou nesta nova área e VOCÊ que simplesmente ama a odontologia e sabe que o ganho não é da nova especialidade e sim da nossa classe.
Obrigado ao PAI da Odontologia do Esporte no Brasil, Doutor Mário Trigo por jogar a semente, e agora pelo reconhecimento de um de seus frutos e de muitos outros que estão por vir.
Eli Luis Namba